O Amor e a Loucura
“Em tempos atrás viviam duas crianças, um menino e uma menina, que tinham entre quatro e cinco anos de idade. O menino chamava-se Amor e a Menina Loucura. O Amor sempre foi uma criança calma, doce e compreensiva. Já Loucura era muito emotiva, passional e impulsiva, enfim, do tipo que jamais levava desaforo para casa. Entretanto com todas as diferenças as crianças cresciam juntas, inseparáveis; brincando, brigando... Mas houve um dia em que o Amor não estava muito bem, e acabou cedendo às provocações de Loucura, com a qual teve uma discussão muito feia. Ela não deixava nada barato, estava furiosa como nunca com o Amor, começou a agredi-lo, mas não só verbalmentecomo de costume. A menina estava tão
descontrolada que agrediu o garoto fisicamente e, antes que pudesse perceber, arrancou os olhos do Amor. O Amor sem saber o que fazer, chorando foi contar à sua mãe, a deusa Afrodite, o que havia ocorrido. Inconsolada, Afrodite implorou à Zeus que ajudasse seu filho e que castigasse, Loucura. Zeus, por sua vez, ordenou que chamassem a garota para uma séria conversa. Ao ser interrogada a menina respondeu como se estivesse com a razão que o Amor havia lhe aborrecido e que foi merecido tudo o que aconteceu. Embora soubesse que não fora justa com seu amigo, a menina que nunca soube se desculpar concluiu dizendo que a culpa havia sido do Amor e que não estava nem um pouco arrependida. Zeus, perplexo com a aparente frieza daquela criança disse
que nada poderia fazer para devolver a visão do Amor, mas, ordenou que Loucura estaria condenada a guiá-lo por toda a eternidade estando sempre junto ao Amor em cada passo que este desse. E até hoje eles caminham juntos, onde quer que o Amor esteja, com ele estará Loucura, quase que fundidos numa só essência. Tão unidos que por vezes não se consegue definir onde termina o Amor e onde começa a Loucura. E também por isso que usa-se dizer que o Amor é cego; mas isso não é verdade, pois o Amor tem os olhos da Loucura”.(Autor Desconhecido)
Sendo eu o Amor, posso afirmar que causo efeitos colaterais, esquecimento e perda de razão, quando se trata de Amor Platônico ou não. Acontece, quando dedico meu tempo para colocar em um pedestal o que quer que seja o objeto de desejo, escondendo defeitos e atitudes imperdoáveis, como a traição e a mentira. Segundo o Neurologista, André Palmini, da Faculdade de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que estuda os efeitos do amor no cérebro, afirma, – Os mecanismos cerebrais que identificam as atitudes dos outros de forma critica são desativados, dessa forma, dificilmente o apaixonado consegue ver os defeitos e desconfiar da pessoa amada. – Porém, não é preciso ser especialista para saber e perceber os efeitos que a minha mágica causa em qualquer
tipo de pessoa, desde a mais vulnerável, até aquela que jura ser forte o bastante para evitar a “louca paixão”.
“Amor é fogo que arde sem se ver,é ferida que dói, e não se sente;é um contentamento descontente,é dor que desatina sem doer.É um não querer mais que bem querer;é um andar solitário entre a gente;é nunca contentar-se de contente;é um cuidar que ganha em se perder.É querer estar preso por vontade;é servir a quem vence, o vencedor;é ter com quem nos mata, lealdade.Mas como causar pode seu favornos corações humanos amizade,se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
(Luiz Vaz de Camões)
Após algum tempo em um mesmo relacionamento, é possível que meu efeito comece a amenizar, mas não em todos os casos, alguns permanecem ternos por muito tempo. A questão é, depois de certo tempo convivendo com aquela pessoa, reconhece seus defeitos, suas manias, e até mesmo toma conhecimentos dos erros que foram cometidos e que foram deixados de lado pela incontrolável confiança que se mantinha e que não podia ser quebrada nem pela pessoa mais confiável do mundo. Alguns relacionamentos terminam por ai, quando você descobre que ele(a) não é nem de longe o que você imaginava que fosse. Porém, muitos continuam, na esperança de dar certo ou de teimar em achar aquela pessoa fantástica de um tempo atrás, escondida em algum lugar naquele corpo oco e insensível. É mais fácil desacreditar uma pessoa apaixonada com palavras ou com
imagens? Como o Neurologista, André Palmini, afirmou, a confiança que se tem em uma “louca paixão” é inquebrável. Há um tempo atrás, a imagem era a garantia para que fosse possível provar uma traição, uma mentira, mas com o uso popular do Photoshop , é difícil separar a verdade da mentira. Nem palavras, nem imagens, para ter certeza tem que pegar no flagra. Li em um artigo, em um desses Blog’s, por Ruleandson do Carmo, que dizia que eu deveria ser mudo ou surdo ao invés de cego. A razão que foi dada conseguiu me convencer por inúmeros motivos, o maior deles é que um “Adeus” escutado em forma de “está tudo acabado”, quebra o Amor dentro de quem o houve, sofro por conseqüência, sofro durante todo o maldito tempo em que demora para arrancar lembranças, planos e desejos construídos antes daquele “Adeus”, e eu sei que no fim foi tudo culpa
minha e da Esperança, que juntos criamos e cultivamos a Fé nesse relacionamento sem fundamentos. Assim, como Eu deveria ser surdo para não ouvir despedidas, deveria também ser mudo, para não poder fazer juras, promessas e elogios antes de matar a mim mesmo dentro de quem faço objeto de desejo sofrer com um “Adeus” qualquer. Mais uma vez voltamos a origem de como fiquei cego, essa teoria que vi no tal blog, me ajudou a refletir em porque causo mais sofrimento do que felicidade no final. “De tanto querer ver, acho que o amor ficou cego... Quem sabe ele cegou de Saudade.Os olhos dele não conseguiram mais olhar o mundo e não ver quem ele amava e preferiu não mais ver. Pois se o olho não vê, a mente imagina. Afinal, para que olhar, se não se vê o que quer.” Ruleandson termina seu texto fazendo uma crítica, “Me dizem para aprender a viver sem quem eu amo. Mas como aprender a viver sem quem
me ensinou o que é viver? Mundo injusto.” Dessa forma percebi que o resultado dessa conta não é a soma do meu Eu(Amor) mais outro Eu, mas isso mais outros milhares de fatores relevantes como a Confiança, a Verdade, a Cumplicidade, o Amor Próprio, etc. Não importa se sou cego, surdo ou mudo, o importante é que as pessoas sintam, e consigam entender o bem que é o “amar”. Por mais que haja sofrimento, muitos sabem que sou importante, e que o que os faço sentir em cada momento, vale a pena, mesmo que depois fique só na lembrança. Começo a achar que não sou cego, apenas tenho um ego muito grande quando se trata de paixão. Vamos comparar o Amor Amante com o Amor Amigo. O Amor Amigo pode participar de relacionamentos do Amor Amante, mas não o contrário, pois bagunçaria muita coisa, por isso existe o ditado de que “uma grande paixão pode surgir de uma grande amizade, mas uma
grande amizade não pode surgir de uma grande paixão”. Após a intimidade ínfima, é impossível controlar aquilo que já foi chamado “meu”, meu namorado, meu amante, meu bebe, meu lindo, etc, nada sai disso e passa a ser apenas meu amigo, apenas meu colega, apenas alguém que faz muito por mim, tem que ser “aquele que me fez feliz um dia e seguiu em frente sem mim”. Não se pode julgar quem ama com base em beleza, nem sempre se ama pelo externo, na verdade gosto mesmo de ligar duas pessoas pelo que elas pensam que a outra pode ser, sendo feia por fora ou não, outra questão para se discutir é que a feiúra ou a beleza é de acordo com gostos e mais gostos, o que elas possuem em comum é o que realmente importa, o que vale mais uma vez é o que se sente, o que Eu causo, o que Eu faço sentir, desejar, planejar. Ter ou não ter um Amor Amante, mais conhecido como Namorado(a) ou Cônjuge. Parece fácil ter um relacionamento hoje em dia, mas muito estão
apenas interessados nos benefícios, como o sexo, o prazer e a ausência de cobrança no dia seguinte, que provem de um relacionamento chamado “Amigos com benefícios”. Ninguém parece mais querer me sentir, e ter os benefícios que eu posso oferecer, benéficos duradouros e parecidos com os que se obtém com a amizade benéfica. Namorar não precisa de beleza, não precisa de aprovações, só precisa de mim, e quem me tem possui o dom da adivinhação, da pele-com-pele, da lágrima e dos sonhos. Namorar é se dar por inteiro, proteger mesmo não precisando, é sentir frio na barriga, tremor nas pernas e suor frio ao se aproximar de quem se ama, e não há melhor proteção do que um olhar e o calor humano da compreensão, só possui esse poder quem tem a mim. As recompensas de que falei não devem ser cobiçadas, devem ser merecidas, só as possui quem sabe o valor de uma tarde no parque, de andar de mãos dadas, de correr pelas ruas desertas num dia de chuva,
cinema aos domingos, lanchonete as duas da manhã, do telefonema de madrugada por qualquer medo bobo... A vitória não vem no sexo, nem do prazer, muito menos na falta de cobrança no dia seguinte. Quem possui o amor tem a chance de dar prazer a alguém enquanto recebe, faz sexo com carinho, tem a seu lado alguém que o conhece, sabe do que gosta, onde lhe da mais prazer, o que lhe agrada, no fim do sexo, essa pessoa não vai imediatamente se levantar, se vestir e desaparecer, certamente irá deitar ao seu lado, dizer coisas carinhosas, chamar para tomar um banho, ou ate quem sabe preparar alguma coisa parar comer. No dia seguinte não haverá sempre um telefonema com cobranças e reclamações, mas sim de saudade, talvez nem precise do telefone, basta apenas virar para o outro lado da cama e falar ao pé do ouvido. Quem ama tem muito mais do que é possível dizer, só amando para entender. O amor está muito alem do que a simples frase “Eu te amo”, está na gargalhada compartilhada por algo dito junto, está na flor colhida no caminho da casa de quem se ama, nas mãos que se tocam de repente no escuro da sala de cinema, no olhar de cumplicidade trocado após sair do banheiro
individual do avião, está no ato de acordar e procurar por ele(a) no mesmo instante, Eu faço com que qualquer um queira falar daquele que ama por horas e horas, ate por dias sem se cansar, sem ficar sem ter o que dizer, e sem perceber o aborrecimento dos outros por ter que escutar. Posso trazer junto comigo, o ciúme, a inveja, mas são sentimentos irrelevantes, só sente ciúmes quem é inseguro, e como já disse, é preciso ter Amor Próprio antes de ter Amor Amante. A inveja vem sempre de um terceiro, daquele que lhe ouviu falar do novo amor por horas, ou que assiste enquanto vocês transbordam paixão pelos mil cantos do mundo. Invejosa é aquela pessoa que poderá vir a paquerar aquilo que você ama, mas que só o terá se não houver segurança, confiança e diálogo. Sei que fiz um bom trabalho e que continuo fazendo, quando me vejo refletido nos olhos dos amantes em alguma festa e escuto, “é a nossa música”. É lindo o fato de poder lembrar quem amamos mesmo de longe, e ter uma música que fala pelos dois é o que Me faz lindo. Não ama, aquele que não se dedica, que não sabe rir e brincar de vez em quando, que pensa antes em si, para depois pensar no outro. Não ama, aquele que preza a solidão, quem não fala e ri de si mesmo sozinho, quem possui medo de relacionamentos afetivos. Não ama, aquele que não teve
loucura suficiente para ser quem é em qualquer lugar, aquele que não teve loucura suficiente parar fazer o que lhe faz bem e fazer a vida parar para ter sentido.
Certa vez ouvi, “o primeiro amor nunca se esquece”, e senti que precisava
corrigir essa frase, não é o primeiro, o décimo ou o ultimo amor que determina
se é ou não inesquecível, qualquer amor pode ser inesquecível, basta ser
verdadeiro e feliz.